terça-feira, 1 de março de 2016

Azul

     As nuvens escuras no fim daquela tarde eram atenuadas pelo céu, que, ainda que escuro, cobria o horizonte delicadamente com seus suaves tons de azul. Meu olhar voltava-se para cima, e, em contemplação, mergulhava profundamente naquele céu que abraçava-me como quem afugentava meus piores medos e oferecia-me abrigo em um sorriso brando e familiar. Azul, como a mácula que teu peito trazia junto ao meu e escorria, derretia, deleitava-se em encantos e trazia-me para teu mundo, onde teu abraço me acalmava e teus olhos me fitavam. Azul, como a ternura de teus beijos, que me levavam para um voo pelo teu céu de sonhos, cortando as nuvens, rasante ao oceano azul, diante do horizonte infinito. A melodia que de teus dedos respingava, recaindo sobre meu sonhar como cada gota de chuva caía pelo lado de fora da janela. A chuva, ainda forte, adiava minha partida. Teus braços, que ainda me acolhiam, me convenciam a ficar por mais algum tempo. Das surpresas, o céu se acendia diante de nós, mostrando-nos o brilho de suas estrelas e a vastidão de suas constelações. A grandiosidade do universo a contrastar com aquele pequeno minuto, grande o suficiente para fazer morada em minha memória, naquele momento parecia colocar-nos diante de sua atemporalidade, levando-nos a outros lugares, longe de nossas próprias consciências. Em teus braços, enquanto viajava, havia segurança. Os segredos angustiados eram acolhidos e acalmados por suaves mãos. As palavras que voavam trêmulas pelo ar encontravam em teus ouvidos um lugar para repousar. Em teus olhos, havia um céu para voar. Azul, como o teu perfume a abraçar-me enquanto fitava aquele céu, buscando nele poder ver o azul que me cobria quando teus braços me cercavam. Azul, como aquele novo céu em que voava, mas que trazia-me o reconforto de quem chega em casa.

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